quinta-feira, 23 de abril de 2009

Violência e legitimação

Alguns textos disponíveis on-line, interessantes para o tema da violência e legitimação:

- Kate Crehan fala dos conceitos de hegemonia na obra de Gramsci

- Jacques Soustelle expõe a vida dos Aztecas antes da conquista espanhola

- Maurice Godelier analisa a manipulação dos anteriores princípios de organização dos povos submetidos, para a legitimação da exploração e domínio por parte do império Inca

- Max Gluckman apresenta o sistema político do reino Zulu, na sequência da sua expansão guerreira

- Jason Sumich discute o papel da ideologia da modernidade na legitimação das altas elites moçambicanas

Bon apetit...

2 comentários:

Anónimo disse...

Roman Beiu
eu tenho uma pergunta (que leva a outras perguntas) que nos ultimos tempos e com alguma frequencia leva-me e pensar e ocupar alguma tempo.
por que que as pessoas gostam do poder? qunado é que nos aprecebemos qual é o verdadeiro poder do poder? em que situaçoes é que é usado e para que?porque que as pessoas precisam de alguem com poder?como que entregamos a essa pessoa ou instinuiçoa o poder?e porque o fazemos?porque fazemos qulio que estas edentidades querem?mesmo que as vezes o fazemos sem querer, fazemos por obrigaçao.
a pergunta que mais preocupa......é porque que as pessoas gostam de ter poder?
sera que a antropologia tem as feramentas para responder a esta pergunta?
desculpe de ter publicado aqui as minhas perguntas...nao encontrei um lugar mais adequado.......
e gostava mesmo de encontrar algumas respostas

(Paulo Granjo) disse...

Tentemos procurá-las em conjunto.

Quanto ao "porque é que nos submetemos", a resposta parece-me estar naquele cruzamento de dois factores que andamos a estudar neste momento: por uma lado, a coação e a capacidade de exercer e/ou ameaçar o uso da violência (não apenas física); por outro, a hegemonia, naquelas duas acepções gramscianas cuja importância tento salientar - a imposição e legitimação do poder por meios ideológicos, através do convencimento dos subordinados; e a integração, na ideologia dos subordinados, de aspectos-chave da ideologia dos dominantes, acerca da justificação/naturalização do seu próprio domínio.

Em termos mais gerais (e particularmente quanto à questão do "porque é que gostamos"), sugiro, para todos os que tenham as mesmas preocupações que refere, uma linha de reflexão que pode alargar a discussão para fora do campo dos estereotipos psicológicos - área que, no entanto, também não me parece irrelevante:

Reparem que, mesmo nos casos estudados pelo Pierre Clastres (em que o poder é sujeito a um apertado controlo social, para que não tenha veleidades a tornar-se coercivo) ou nas sociedades anárquicas/autárcicas onde é (era?)exacerbada a autonomia individual e recusada e emergência de chefes, o poder é um dado pré-existente a cada indivíduo particular. Se não ao nível dos negócios "públicos" e gerais, ao nível da família, do género e por vezes da idade.
Poderes tão mais facilmente legitimáveis quanto podem, também facilmente, ser entendidos como "naturais", por muito sociais que sejam.

O quadro de contrangimentos com que as pessoas são confrontadas não suscita, então, a opção "quero ou não ter poder sobre os outros?", mas "quero ser dominante ou dominado?". Só complexas especulações abstractas e prospectivas permitem levantar a questão da possibilidade (e vantagens/desvantagens) de relações sociais em que as relações de dominação não existam.
Assim sendo, é compreensível que seja quase, quase sempre dos dominados que surjam os questionamentos das relações de dominação existentes e, nalguns contextos, das próprias relações de dominação em geral.

Para pensarmos em casos concretos, entretanto, talvez seja também útil tomarmos em conta as sugestões d Ruth Benedict no 'Padrões de Cultura' que vieram outro dia à conversa na aula: que "culturas" diferentes estimulam e reprimem características caractereológicas também elas diferentes.
Desse forma, até a relação com o poder (incluindo a discrição ou avidez no acesso a ele e o comportamento no seu exercício - e não apenas as expressões de emoção com ele relacionadas, mas as próprias emoções) tenderá a ser condicionada desde a socialização primária e a ser objecto de escrutínio social depois disso.

Enfim...
São pistas de reflexão. Agora, falta fazer a reflexão.
Vamos discutir?