Há uns dias, um Presidente da República foi morto em sua casa, por militares, e o porta-voz das Forças Armadas veio dizer que não se tratava de um golpe de estado. E, se calhar, até nem era essencialmente isso.
Num país com fama de bem sucedido, vão-se sucedendo linchamentos que transmitem mensagens políticas e espalhando convicções de que o estado está a prender a chuva no céu e a espalhar a cólera.
Noutro, constitucionalmente democrático, uma sucessão inacreditável de malfeitorias repressivas estatais, por parte dos derrotados nas últimas eleições, foram toleradas pelos democráticos vizinhos de quem dependem.
Outro, ainda, por pouco não entrou em guerra civil e fragmentação, por razões que juntam a maior modernidade e arcaísmos com mais de 500 anos.
Entretanto, há quem se auto-organize em termos políticos, quem tenha chefes com maior ou menor poder e quem se submeta a estados.
Há quem escolha chefes mas os goze com as suas funções, há quem sacralize os seus reis e lhes atribua poderes enormes sobre o universo, há quem tente separar a política da religião.
Há classes sociais, castas e tentativas de fazer de conta que somos todos iguais.
Há relações de poder que se exercem sobre sociedades inteiras e outras que abrangem comunidades restritas, ou medram em empresas e escolas, entre homens e mulheres, numa família, entre duas pessoas.
Há quem as exerça mais com base na força e quem mais se esforce por fazer com que, aos olhos dos dominados, o seu domínio pareça natural e legítimo.
Isto interessa para alguma coisa?
Isto desperta-vos curiosidade?
Se são alunos de "Antropologia Política" na FCSH ou de "Economia e Poder" no ICS, é melhor que desperte - porque, no fim de contas, vão ter que estudar e discutir estas coisas.
É para vocês que, antes de mais, este blog existe. Como um espaço de informação e de debate que vos pode servir de apoio e que transporta estas questões das aulas para um sítio menos limitado pelos relógios e pela presença física.
Para os outros que aqui passem, juntem-se a nós.
Leiam o que aqui será sugerido, se quiserem. E se quiserem opinem, argumentem, perguntem, debatam.
O microfone está, a partir de hoje, aberto.
Excellent anthropological writing?
Há 15 anos
7 comentários:
Blog interessante professor. Entretanto parece-me que faltou um pais onde o primeiro ministro plagiou o slogan "A Forca da Mudanca" do partidao la do pais dos linchamentos, ou isso nao e antropologia politica? Emidio Gune
Ôi, Gune!
Como sempre, oportuno.
Esse tal país não está porque tem coisas muito mais antropológicas na cena política e quiz "entrar de mansinho" junto dos alunos.
Mas esse caso merece, de facto, ser afixado aqui. Será o próximo post.
Um grande abraço, extensivo aos colegas aí do departamento.
Gostei da dica do Emídio Gune. Parece-me que será um espaço interessante de debate, se nos concentrarmos na diversidade dos contextos políticos 8e económicos) e sobretudo na abertura que muito os antropólogos se arvoram, mas que no final das contas sempre lá surge de mansinho o velho fantasma dos sociedades primitivos. Abraço pela iniciativa professor Granjo. Danúbio Lihahe
Blogue oportuno, caro Paulo.
Por hoje deixo ficar uma consideração estética, logo muito discutível. O fundo fotográfico sobre o qual o chamariz do blogue está escrito não parece atinar muito com as letras, ou aos 32 já ando eu a ver mal!!
Carlos Bavo
Viva, Danúbio!
Isto de ter os meus dois ex-alunos preferidos a comentarem no primeiro dia, sem eu sequer vos ter avisado deste novo blog, é para mim uma enorme honra.
Quanto à questão que colocam, já deu origem ao post sguinte.
Mandem brasa!
Caro Carlos Bravo:
Está, de facto, uma bodega.
Tentei dar-lhe um jeito, mas pouco melhorou...
Como não consigo colocar o sub-título mais para baixo, a solução passará por eliminá-lo, ou por outra foto.
Estou mais inclinado para a primeira solução. Aceitam-se sugestões.
Prof. Paulo Granjo, que pena ter feito "Antropologia Política" na FCSH já em 2004. Na altura, no meu 2º ano da Licenciatura, a matéria não me despertava tanto interesse como agora. Parabéns pelo blog, serei uma seguidora atenta!Marta Patrício
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