sábado, 25 de abril de 2009

Ao contrário da maioria dos democratas da minha geração, não me desagrada que o pessoal 20 ou 30 anos mais novo se esteja nas tintas para as comemorações do 25 de Abril.
Não me desagrada, porque isso quer dizer que, para eles, a liberdade é uma coisa natural, um dado adquirido que sempre conheceram e que, por isso, nem sequer justifica celebração.

É claro que não é assim, que a liberdade só é “natural” nas abstracções de alguma filosofia política e que nunca é um dado adquirido.
É claro que a liberdade que conhecem é resultado de milénios de lutas, expressão de um equilíbrio mutável de poderes e um bem permanentemente ameaçado.

Mas estará menos apetrechado para defender a sua liberdade (e para se aperceber quando ela é posta em causa) quem a sinta como natural?
Duvido muito. Não se aperceberão de como é fácil perdê-la; mas, mais do que quem se habituou a conhecer a sua ausência, encararão essa perda como inaceitável.

A aparente indiferença dessas pessoas mais novas é, afinal, a maior das comemorações, o mais forte hino à liberdade – e, saibam-no elas ou não, àqueles que contribuíram para que ela se tornasse normal.

(publicado originalmente aqui)

6 comentários:

Anónimo disse...

Pode ser um hino à liberdade, mas pessoalmente preoucupo-me com os inúmeros comentários de gente por vezes muito nova que constrói um discurso favorável ao regime "do velho senhor", subretudo como forma de manifestação de descontentamento pela forma como a democracia é vivida no nosso país que, se não é o do "salve-se quem puder", pelo menos parece. Ora eu, que tinha 6 anos em 1974 e ainda guardo recordações desse dia, lá longe na Lourinhã, com os pais agarrados ao pequeno transitor, preoucupados com a filha em Lisboa que trabalhava como empregada doméstica na casa de uns senhores ligados ao PS. Mas Caxias, Peniche, Tarrafal, lápis azuis, pedaços de telha para poder acender um simples isqueiro, isso a mim não passou ao lado. Pode parecer que a democracia está de "pedra e cal" mas, como diz o professor, a estatística e a história da Humanidade jogam contra nós.Foram milhares de anos para chegar a esta liberdade. Há que ficar atento, para não cair em erros recorrentes da história. Roma conheceu primeiro a República, e só depois o poder Imperial. Os patrícios romanos preferiram delegar poder e responsabilidade.Na altura como hoje, a política era uma coisa aborrecida. E as elites souberam tirar partido disso. Creio bem que ainda há muitos portugueses dispostos a trocar a sua liberdade por um pedaço de pão, (ou um LCD, vai dar ao mesmo). Prefiro mil vezes a democracia àquilo que havia antes. Mas isso não me impede de ver e de me incomodar com certos democratas de agora, que parecem governar muito bem os seus bolsos. Isaltinos, majores e afins. Isso quando não andam a brincar com meninos da Casa Pia e depois têm que abandonar cargos de chefia à pressa e ir para algum "retiro espiritual dourado" algures na Europa, enquanto esperam que a poeira assente. Pagar por crimes cometidos?! Não, a justiça é só para o povo! O parlamento até se dá ao luxo de legislar para alterar leis desfavoráveis a certos senhores. E para a prisão, vão apenas "os suspeitos do costume". Democracia? Sim, sempre. Mas que seja cada vez melhor, com o empenho de cada um de nós. Atentos. Actuantes. Acutilantes. Exigentes. Porque se as bases não forem sólidas, um dia o "edifício" virá abaixo.

Desculpem o desabafo.

Sérgio Caldeira

Anónimo disse...

Para mim, e sendo da geração pós 25 de Abril, considero triste que pessoas da minha geração não saibam o que foi o 25 de Abril. Não passaram pela ditadura salazarista que os nossos avós passaram, mas também porque nas matérias escolares não se dá o devido valor. Como o Sérgio disse, há muita gente que em vez de esperarem pelo D. Sebastião numa noite de nevoeiro, esperam pelo Salazar para salvar o nosso país à beira mar plantado. Quando oiço alguém dizer isto causa-me surpresa, pois embora nos espantemos de certos políticos não serem julgados por actos que julgamos menos lícitos, devemos pelo menos agradecer por actualmente podermos fazer o nosso julgamento em praça pública.
Sara do Carmo

(Paulo Granjo) disse...

O tema é assim tão desinteressante, para só duas pessoas quererem comentar?

Susana Boletas disse...

Sendo eu uma (já não tão) jovem de esquerda, pertenço à chamada "geração dos direitos humanos" consequência da falência e descrédito em que caíram os projectos utopistas que forçou a esquerda a tomar os direitos humanos como a sua bandeira possível. Isto é também um reflexo da pós-modernidade em que vivemos, em que na falta de novas ideias, todas as outras se tornaram válidas. E assim assistimos ao ressurgimento de ideiais fascistas que toleramos sem grande indignação por os acharmos paradoxalmente democraticamente válidos. Numa democracia que se quer pluralista afinal também têm direito a existir. Mas qual é o diálogo possível entre esta multiplicidade de discursos, visões do mundo e ideologias adversos em que vivemos? Contribui esta realidade de facto para um sistema mais democrático ou apenas produz ruído e gera mais confusão? E se há ideiais, projectos e discursos que não podemos tolerar, como é que o fazemos sem cair na censura e na repressão?

Se o estou a citar correctamente, Bourdieu dizia que quanto maior a distância entre o poder e as pessoas, maior era a probabilidade destas o não o compreenderem correctamente. Assim podemos compreender como jovens provenientes de estratos socio-económicos mais periféricos, pouco qualificados e com dificuldades em arranjar emprego decidem rapar a cabeça e irem para a rua fazer a saudação romana e grafitarem suásticas nas paredes, entre coisas piores, abraçando um projecto tão anti-democrático por acreditarem que assim vão ter maior poder e controlo sobre as suas vidas. E agora numa altura de crise económica tão acentuada em que o emprego está difícil até para os mais bem qualificados, percebe-se como a revolta leva alguns a culparem a emigração pela precaridade em que vivem porque lhes veda o acesso aos empregos que, segundo o nacionalismo que subscrevem, deveriam ser deles.

Portanto não sei se esta indiferença face às comemorações do 25 de Abril não é também fruto do desconhecimento sobre o que era o regime a que esta revolução pôs fim. E, por isso, se saberão reconhecer a emergência de algo parecido e reagir a isso.

Susana Boletas disse...

Perdão. Onde está Emigração deve-se ler Imigração.

Anónimo disse...

A questão da liberdade, é muito subjectiva, e engane-se quem pensar que hoje em dia apesar de termos uma democracia vivemos nesse ambiente utópico. Se consideram Portugal e o regime político livre, então a minha concepção de liberdade veio de um tempo arcaico dificíl de definir e que é obsoleto, porque não é sair á rua e sentirmo-nos inseguros, com os assaltos e outras coisas piores prestes a acontecer que legitimam essa condição tão idolatrada pela geração do pós 25 de Abril. Se é no sistema de tremenda injustiça social, de violência crescente, de "pudridão ética" (desculpem a expressão), e de imoralidade que vocês gostam de viver, eu preferia estar lado a lado com o regime Salazarista, onde não vivia obececado pela ganância, sentia-me feliz pelo pouco que tinha, onde saia á rua sem poder ser morto por um bando de cachopos que nem a maioridade têm(desculpem a minha objectividade).
Sou solidário para com as pessoas que foram reprimidas pelo Estado Novo,e não estou a por em causa o seu sofrimento, mas argumentá-lo pelo facto de falarem mal do regime parece-me um pouco estranho (falo disto porque tenho pessoas na família que nunca foram reprimidas por isso).
Por fim, e como é sabido não existem regimes Políticos que agradem a todos, no entanto será melhor viver num regime Ditaturial, onde o genuíno e a harmonia imperam, ou num sistema democrático extremamente injusto?
Falam da P.I.D.E! E a nossa polícia, só anda atrás de quem trabalha...ah pois é, chama-se a isto corrupção!
Desculpem o meu conservadorismo, mas ao ver este espaço de debate á que haver divergência de ideias!

André Camponês